A dislexia é uma condição de base neurológica que afeta a habilidade de uma pessoa em processar a linguagem escrita e falada. Para crianças disléxicas, o processo de leitura e escrita pode ser desafiador, mas não impossível. A abordagem Orton-Gillingham continua sendo uma das mais respeitadas e eficazes no ensino da leitura, especialmente para alunos com dislexia. E não é por acaso. Essa metodologia tem sido a base de muitos programas de alfabetização bem-sucedidos porque oferece uma estrutura sólida, adaptável e centrada nas reais necessidades de quem aprende.
Uma das grandes forças da abordagem Orton-Gillingham é o fato de ser multissensorial. Isso significa que, ao aprender, o aluno utiliza mais de um sentido ao mesmo tempo — ele vê a letra, ouve o som, diz em voz alta e ainda traça com o dedo o formato da letra. Essa combinação de estímulos visuais, auditivos, táteis e cinestésicos cria conexões mais fortes no cérebro, facilitando a memorização e a compreensão da linguagem. Para alunos com dislexia, esse tipo de estímulo é essencial.
Outro diferencial importante é que essa abordagem é estruturada e sistemática. Os conteúdos não são apresentados de forma solta ou aleatória; pelo contrário, seguem uma sequência lógica e cumulativa, que vai do mais simples ao mais complexo. Cada nova habilidade se apoia em uma anterior, o que permite que o aluno avance com segurança e consolide o que está aprendendo, sem lacunas.
Além disso, Orton-Gillingham foi desenvolvida especialmente para atender alunos com dislexia e outras dificuldades de aprendizagem. É uma metodologia que respeita o ritmo individual, valoriza os pontos fortes do aluno e pode ser ajustada conforme as necessidades de cada um. Isso é fundamental para evitar frustrações, resgatar a confiança da criança e promover um aprendizado real e significativo.
Outro ponto positivo é que essa abordagem pode ser aplicada em diferentes contextos: funciona tanto em atendimentos individuais quanto em pequenos grupos. Seja você um professor em sala de aula, tutor, psicopedagogo ou mesmo uma mãe que acompanha o reforço em casa, os princípios de Orton-Gillingham podem ser adaptados à sua realidade e funcionar com excelentes resultados.
Em resumo, a metodologia Orton-Gillingham é multissensorial, estruturada, sequencial, cumulativa, personalizada e inclusiva. Uma ferramenta poderosa e transformadora para quem deseja oferecer uma alfabetização eficaz, afetuosa e adaptada a cada criança. A chave está em utilizar metodologias que funcionam, baseadas em evidências científicas e em práticas pedagógicas eficazes. Neste artigo, você vai conhecer 5 atividades práticas de intervenção, inspiradas em abordagens comprovadas, como o método Orton-Gillingham, e que realmente podem transformar a trajetória escolar de um aluno com dislexia.
A importância de metodologias eficazes na intervenção da dislexia
Muitos professores e famílias se sentem perdidos ao tentar ajudar crianças com dislexia. Isso acontece porque, muitas vezes, utilizam-se estratégias tradicionais que não atendem às necessidades específicas de quem tem esse transtorno.
Autores como Orton e Gillingham (1930) já destacavam que a intervenção para dislexia precisa ser multissensorial, estruturada, explícita e sequencial. Mais tarde, pesquisadores como Sally Shaywitz e Reid Lyon reforçaram que intervenções baseadas em evidências têm maior impacto quando iniciadas precocemente e aplicadas de maneira contínua.
O problema não está na capacidade da criança, mas na forma como ensinamos. A boa notícia é que é possível transformar esse ensino com atividades práticas e metodologias que funcionam de verdade. Por que é importante escolher metodologias eficazes para a dislexia?
Quando falamos em apoiar um aluno com dislexia, a escolha da metodologia certa faz toda a diferença. Não se trata apenas de ensinar “mais devagar” ou “com paciência”, mas sim de usar estratégias comprovadas, que respeitam o funcionamento neurológico do cérebro disléxico e potencializam as habilidades da criança.
Métodos tradicionais x metodologias baseadas em evidências
Os métodos tradicionais de alfabetização costumam seguir uma abordagem mais geral, muitas vezes centrada na memorização de palavras, no ensino visual isolado ou no uso de textos complexos sem preparação prévia. Para crianças disléxicas, essas estratégias costumam gerar frustração, pois ignoram o que a neurociência já sabe sobre como elas aprendem.
Em contrapartida, as metodologias baseadas em evidências científicas, como o método Orton-Gillingham, a alfabetização fônica estruturada e a abordagem multissensorial, foram desenvolvidas justamente para atender às necessidades específicas do cérebro disléxico. Elas ajudam a criar conexões entre som, forma e significado, facilitando a leitura e a escrita de maneira mais natural e efetiva.
O impacto na autoestima e no progresso escolar
Uma metodologia mal escolhida pode levar a criança a acreditar que ela é o problema, quando, na verdade, o problema está no método. Por outro lado, quando usamos uma abordagem adequada, a criança progride, entende, se sente capaz — e isso tem um impacto profundo na sua autoestima, na relação com a escola e até mesmo com a família.
Crianças que começam a compreender as regras da linguagem e a participar ativamente das aulas, sentem-se pertencentes e motivadas. O aprendizado deixa de ser fonte de dor e passa a ser motivo de alegria.
O papel da metodologia na personalização do ensino
Não existe uma “receita pronta” que funcione para todas as crianças com dislexia. Justamente por isso, as metodologias eficazes precisam ser flexíveis, personalizadas e adaptáveis. Um bom método oferece estrutura, mas também permite que o educador ou responsável ajuste o ritmo, o nível de complexidade e os recursos visuais ou auditivos usados.
É esse olhar atento, combinado a uma metodologia sólida, que gera resultados reais: mais leitura, mais escrita, mais autonomia e mais confiança
Características de metodologias eficazes para dislexia
Antes de mergulhar nas atividades, é importante entender o que diferencia uma metodologia eficaz de uma abordagem tradicional. Segundo a Academy of Orton-Gillingham Practitioners and Educators (AOGPE) e pesquisas recentes em neurociência cognitiva, as melhores práticas para intervenção na dislexia têm os seguintes pilares:
🔹 Multissensorial
Envolve diferentes sentidos (visão, audição, tato e movimento) ao mesmo tempo, para criar mais conexões neurais no cérebro.
🔹 Explícita
Nada é deixado para a adivinhação. Cada som, regra ou estrutura da linguagem é ensinada de forma direta.
🔹 Sequencial e Cumulativa
Os conteúdos seguem uma ordem lógica e progressiva. O novo sempre se apoia no que já foi aprendido.
🔹 Personalizada
Cada aluno tem um ritmo. A intervenção precisa respeitar o ponto onde ele está, oferecendo reforço e prática na medida certa.
5 Atividades Práticas para Intervir na Dislexia com Metodologias Comprovadas
Essas atividades podem ser aplicadas por mães, educadores e profissionais da aprendizagem. São simples, mas extremamente poderosas. Vamos a elas:
1. Caça às Palavras com Textura (Multissensorial)
Objetivo: Estimular a consciência fonológica e visual de palavras com uso de estímulos táteis.
Metodologia: Inspirada no método Orton-Gillingham, que valoriza o uso multissensorial para criar associações entre sons e letras.
Materiais: Papel lixa, EVA, cola quente, cartões com letras.
Como aplicar:
Crie palavras com letras em alto-relevo. Peça que a criança trace com o dedo cada letra enquanto pronuncia o som correspondente. Depois, ela deve encontrar essas palavras em um texto ou caça-palavras feito sob medida.
Dica extra: Você pode usar farinha, arroz ou areia em uma bandeja para a criança “escrever” com os dedos.
2. Jogo do Som Inicial (Fônico e Auditivo)
Objetivo: Fortalecer a habilidade de identificar fonemas iniciais nas palavras.
Metodologia: Baseada nos estudos de Isabel Beck e na abordagem fônica sistemática.
Materiais: Cartões com figuras e letras móveis.
Como aplicar:
Mostre imagens e peça que a criança diga o nome da figura e identifique o som inicial. Depois, ela deve procurar a letra correspondente e colocá-la ao lado da imagem.
Exemplo: Mostre uma imagem de “bola” → som inicial /b/ → letra “B”.
Dica extra: Brinque com rimas e trocas de sons para deixar mais divertido.
3. Construindo Palavras com Sílabas Móveis (Estruturada e Cumulativa)
Objetivo: Trabalhar a decodificação de palavras com consciência silábica e fonêmica.
Metodologia: Alinhada com o método Structured Literacy, usado por organizações como a International Dyslexia Association.
Materiais: Sílabas impressas em cartões (ex: PA, LA, MA, CO, TO…).
Como aplicar:
Entregue sílabas separadas e peça que a criança forme palavras. Comece com palavras simples (PA + TO = PATO) e vá aumentando a dificuldade gradualmente.
Dica extra: Use palavras do cotidiano da criança para tornar o exercício mais significativo.
4. Ditado Ilustrado com Códigos de Cores (Visual e Auditivo)
Objetivo: Desenvolver a ortografia e a consciência das regularidades da escrita.
Metodologia: Técnica combinada entre abordagem multissensorial e color coding, estudada por Barbara Wilson (criadora do Wilson Reading System).
Materiais: Papel, lápis de cor, imagens de apoio.
Como aplicar:
Dite palavras e peça que a criança escreva, colorindo consoantes de uma cor e vogais de outra. Você também pode usar imagens para que ela associe palavra à figura.
Exemplo: “Cavalo” → C-A-V-A-L-O (vogais em vermelho, consoantes em azul).
Dica extra: Transforme o ditado em jogo: cada palavra certa rende pontos!
5. Mapa Morfológico com Prefixos e Sufixos (Consciência Morfológica)
Objetivo: Ensinar a criança a identificar os blocos de significado dentro das palavras.
Metodologia: Baseada em estudos de Carlisle (2003) e Goodwin & Ahn (2010) sobre consciência morfológica na leitura.
Materiais: Tabelas com prefixos, radicais e sufixos.
Como aplicar:
Apresente um radical (ex: “feliz”) e explore as variações com prefixos e sufixos: “infeliz”, “felicidade”, “felizmente”. Depois, monte um mapa visual com setas mostrando como as palavras se formam.
Dica extra: Crie um “jogo de construção de palavras” com baralhos de morfemas.
Resultados Esperados com a Aplicação Contínua
Essas atividades, quando aplicadas regularmente, geram resultados visíveis:
✔️ Aumento da fluência na leitura
✔️ Melhor compreensão de textos
✔️ Escrita mais estruturada e com menos erros ortográficos
✔️ Mais confiança e autonomia para aprender
✔️ Redução da ansiedade escolar
Segundo Sally Shaywitz, os cérebros disléxicos aprendem com mais eficácia quando o ensino respeita seu ritmo e usa caminhos alternativos de aprendizagem – exatamente o que essas atividades propõem.
Dicas para Mães e Educadores Aplicarem com Sucesso
- Comece devagar: Escolha uma atividade por semana.
- Respeite o tempo da criança: Não se trata de corrigir, e sim de construir.
- Celebre conquistas: Cada avanço, por menor que pareça, é uma vitória.
- Repita com variações: A repetição com leve mudança fortalece o aprendizado.
- Grave áudios ou vídeos: Isso ajuda a criança a se escutar e acompanhar sua evolução.
Conclusão
A dislexia não é um obstáculo definitivo. Com as metodologias que funcionam, é possível transformar a experiência de aprendizagem e dar à criança o apoio que ela merece. Atividades práticas, simples e afetuosas fazem toda a diferença – especialmente quando são aplicadas com paciência, consistência e amor.
Você pode começar hoje. Escolha uma das cinco atividades deste artigo e aplique com seu filho, aluno ou paciente. Observe, anote, celebre. A intervenção eficaz é feita no dia a dia.
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Referências Bibliográficas
- Orton, S. T., & Gillingham, A. (1930). Remedial training for children with specific disability in reading, spelling and penmanship.
- Shaywitz, S. (2003). Overcoming Dyslexia. New York: Knopf.
- Beck, I. L., McKeown, M. G., & Kucan, L. (2002). Bringing Words to Life: Robust Vocabulary Instruction.
- Carlisle, J. F. (2003). Morphology matters in learning to read. The Reading Teacher.
- Goodwin, A. P., & Ahn, S. (2010). A meta-analysis of morphological interventions. Scientific Studies of Reading.
- Wilson, B. (2002). Wilson Reading System.
- International Dyslexia Association (IDA). (2018). Structured Literacy: Effective Instruction for Students with Dyslexia.
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